sexta-feira, 18 de junho de 2010

Sentado espero ela se arrumar




Talvez eu entenda porque ela demora tanto a se arrumar. Uma das mais belas qualidades, ela nunca esta satisfeita consigo mesma, tende a sempre melhorar, e todo dia ela ainda mais bonita tenta ficar, e consegue.
Todo inicio de dia ela leva um tempo pra se arrumar, troca aqui, ajeita ali, joga lá, puxa cá... neste tempo eu aproveito pra admirar, cada expressão de seu rosto, cada gesto, cada movimento, fico ali sentado até ela acabar, acabar aquele show que sempre ela me deixa presenciar, presenciar e apreciar.
Fico bravo quando no lado de fora da porta ela quer que eu fique a lhe esperar, a tanto tempo eu repito isso, sempre acompanho aquela dança dela se arrumar, a amo, ela me deixa ver o presente sempre antes de desembrulhar, a amo, não a resisto.
Sentado, espero, admiro, ela esta linda, linda pra mim.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Ela me espia




Sabe, ela tira a beleza das manhãs, talvez o sol deveria envergonhar-se de nascer por alguns dias, é isso que eu reflito sempre acordando minutos antes dela nessa rotina. Eu a beijo, a abraço, a beijo de novo, e ela reclama... mas sei que ela gosta e eu não posso evitar. Cabelos bagunçados, olhos fechados... fico observando-a fingir não saber que estou a lhe observar.
Todo dia eu a levo trabalhar, quando não perdemos um tempo a mais na cama, a gente para pra um café no caminho, as vezes eu a distraio e consigo ser cafona pra com uma rosa e um pão de queijo a presentear, mas ainda continuo não gostando do café com leite, que sempre tomo um gólinho pra poder na mesma xícara compartilhar.
Me agoniza a uma quadra sempre antes do escritório que ela vai ficar, porque é ali que eu vou a deixar, pra poder só voltar quando o relógio batucar o horário de almoço e o turno da manha acabar. Sou pontual com meu relógio de pulso, é perto do fim do mundo se um minuto eu me atrasar depois de contar todas as horas de manha pra gente almoçar.
Acordo, cochilo, bocejo, não resisto a olhar, ela me reponde com um sorriso de olhos fechados que eu sei que ficam a me espiar. Intensamente todo dia.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Não refletivel




Ela não perde seu tempo, por mais não-precioso que ele seja, na frente de um espelho. Seus motivos não são porque talvez ela não goste de sua aparência, é pra afastar os que se importam com ela. Talvez ela seja aquela guria apresentável, mas, não se importa, porque não foi o espelho que a fez ser assim, a vestiu assim, foi ela quem escolheu ser.
Ela quer saber do que ele gostou. Sem palavras se apresenta, que ele goste ou não goste, ela é assim.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Lanchonete




Mil vezes quis recuperar aquela primeira tarde...
Um olhar que desde então me persegue.
Pensei na solidão que me assaltaria naquela noite quando me despedice então dela, pensei no pouco que tinha para lhe oferecer e no muito que queria receber.
Tinha 17 anos e a vida nos lábios.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Não é preciso motivo e eu me privo de ter que entender




Entrei na loja de discos da esquina depois do café seguindo a rotina, comprimentei Daniel meu amigo no balcão, o simples bom dia... refletindo no canto das partilheiras o disco do Brand New com Soco Amaretto Lime incluso, eu já agradecia com os olhos. No caminho em direção a minha edição especial aguardada a meses depois da descoberta de sua existência me desviei da guria com o vinil do Nirvana em mãos... opa! me exclamei por um minuto ouvindo South- Paint The Silence no ar da velha vitrola da ainda mais velha loja, guria+nirvana+vinil... curiosidade, com o disco em mãos mudando a atenção do olhar, relatei assunto comentado a raridade que estava em suas mãos, um pouco caro talvez, edição de colecionadores, edição limitada, quando aqueles olhos se voltaram na minha direção até a vitrola silenciava, eu repondi aquilo com um ola, recebendo o mesmo em troca com um sorriso que roubava a luminosidade do sol extraindo os raios... também curte Nirvana?sem a menor atenção me perguntava, quando eu deveria se referir a ela com o mesmo... respondi apenas claro, já aproveitando a palavra pra me referir a cor de seus cabelos enquanto ela folhava os inúmeros álbuns esquecidos pelo tempo...
Eu que nem reparava se meus cadarsos estavam amarados, estendia o tempo com aqueles olhos estagnados na minha mente como se tivesse me dedicado aquela fotografia estampando-a...
Na saída comentei:
-você tem bom gosto. Sorriu me paralisando.
-respondendo: você também garoto, adoro Brand New...
-eu: adora, adora (gago piscando) Brand New?...
-ela: sim. Se retirou cantando Failure By Design...
-eu: Santo...
Daniel com uma cara de: ?...
-Quem é ela perguntei... recebendo sei lá como resposta... o silencio e a frase:
-vai atrás... Bocejando.
Como numa maratona sem pensar foi o que eu fiz...
Na manhã seguinte eu já havia de encontrar ela lá, disse que costumava voltar aos mesmos lugares sempre, é como a gravidade, coisas importantes me atraem... ela era algo importante.
Há coisas que se pode sentir o calor do vento que sopra na nossa direção... tem motivo.
Não tinha duvidas quando no terceiro encontro apesar de todas as coincidências entre nós a radio da lanchonete tocava Everything-Lifehouse, enquanto ela tentava acompanhar a musica com os lábios batucando seu “Walfer” eu me deparava diante de um romance que só via em filmes ou em livros, que mostrava quase tudo somente com a trilha musical... a luz daquele sorriso me levava, os olhos eram meu caminho, foi em sua boca que eu encontrei a paz...
Estou com quarenta e oito anos Rafael, eu a conheci ela tinha 16 e eu 17, nós estamos juntos até hoje e eu continuo amando-a perdidamente, talvez cada dia mais... por mais velho e cafona eu não me envergonho, ela é a força que me mantém andando... não é preciso lembra-la todos os dias, basta olhar em meus olhos... e como eu poderia ficar aqui com você, e não me comover...?
Acho que nada acontece por acaso, sabe? Que no fundo as coisas tem seu plano secreto, embora nós não a entendamos.
É como um filme, o roteiro é trocado diariamente, você escolhe quando parar, onde parar, com quem parar... eu parei com ela, no dia em que a vi naquela loja.
Acredite guri ainda há... acredite em últimos casos no poder da musica, ela sempre toca por algum motivo.
Bela história disse Rafael...

O negativo do filme



Era um homem muito reservado, e as vezes eu achava que o mundo e as pessoas haviam deixado de lhe interessar.
Me vejo estagnado, parado nesse tempo, as cenas continuam em execução, pelas ruas repletas de gente sem rosto, é uma cidade vazia, eu ando vazio...
A vitrola ainda toca, o violão protege-se com uma camada de poeira no canto do meu quarto, a gaita enferrujou, os livros cairam no lago, o café esta no estado vizinho...
De tanto pensar na morte, Julian achava que havia conseguido encontrar nela mais sentido que na vida.
- Quando morrer, tudo o que é meu será seu – ele costumava dizer. – Menos os sonhos.
Não tinha o direito de amar ninguém, merecia estar sozinho.
Julian nunca disse o porque.